A velhice é hoje em dia encarada de modos diversos e o aumento geral da esperança de vida tem criado um sem número de novas situações na forma de viver da sociedade que chega mesmo a por em causa o humanismo que deveria ser antes de mais a razão de ser das acções de todos nós como colectivo o que infelizmente parece estar a alterar-se.
Sendo este um tema cadente tanto mais que por paradoxo até parece que a melhoria de saúde da população levando a uma diminuição da mortalidade, provoca um envelhecimento da sociedade pois agravando os custos para esta manter os seus pais aposentados agrava a carga de trabalho necessária para criar a riqueza que garanta esses custos e um empobrecimento dos filhos em idade produtiva,os quais por imperativos muitos reduzem a sua descendência.
As contradições existem tanto mais que o desenvolvimento deste status não ocorreu de forma lenta mas num tempo de uma ou duas gerações, e como as nossas estruturas não são de mudança fácil, ficamos com a sensação de que a sociedade onde vivemos, e as suas regras e modos de vida estão todos a rebentar pelas costuras.
Neste espaço, que se pretende de saúde mental, física e financeira, também cabe a saúde social e este é um tema que toca a todos, uns porque já são velhos outros porque ainda não o sendo pela ordem natural lá chegarão. Daí e porque a leitura de um artigo muito interessante escrito pelo colunista Leonel Moura, intitulado "Os Velhos" me fez pensar uma ideia que já me ocupava o pensamento. Daí pedi autorização, que amavelmente me foi concedida para colocar neste espaço o artigo por inteiro. Pretendo assim animar um debate sem contudo ter qualquer pretensão a que daqui saia algum postulado.
Assim aqui vai, de Leonel Moura o artigo publicado no passado dia 15 de Outubro no Negócios online " Os Velhos "
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«O envelhecimento da população é um dado global.
Deriva de melhores condições de vida, uma alimentação mais saudável e cuidados de saúde cada vez mais eficientes e sofisticados. O salto é impressionante. Em apenas meio século aumentou-se a esperança média de vida em 20 anos. E vai continuar.
Este extraordinário avanço civilizacional está contudo, para já, a tornar-se num grande problema financeiro para a maioria dos países ocidentais. O sistema de pensões, desenhado numa altura em que se vivia bastante menos, não comporta encargos tão prolongados e em muito maior número de beneficiários. É simples matemática. Na origem, a reforma era concedida aos 65 anos, quando a esperança de vida andava pelos 62. Era, portanto, um bom negócio para o Estado. Hoje, que se vive para lá dos 90, é um negócio ruinoso.
Mas o prolongamento da vida tem outras implicações que num futuro muito próximo representarão desafios sociais ainda mais complexos e para os quais não existem respostas. Nem sequer pensamento, acrescente-se.
Para além dos encargos crescentes, com pensões e saúde, teremos um crescimento exponencial da pobreza. As pessoas poderão ser bem tratadas nos hospitais e centros de acolhimento, mas as suas existências serão miseráveis. Os reformados já se contam hoje entre os mais pobres. À medida que a população idosa aumenta, a sua condição social decresce. A continuar assim no futuro, as nossas sociedades serão povoadas por vastas multidões de pobres envelhecidos a exigir muita atenção social ou, na alternativa bárbara, a serem abandonados à sua sorte.
Essa existência, já de si precária, será também de uma quase absoluta inatividade. Sem nada que fazer, sem meios para usufruir aquilo que a sociedade tem para oferecer, em termos de lazer, cultura ou aquisição de conhecimentos, os idosos serão, cada vez mais, vistos como um estorvo. A inatividade humana é aliás um dos maiores problemas do futuro. O ócio, quando não é uma arte, torna-se num foco de frustração e conflitualidade.
Acresce que, por isto, e pelo que parece ser a natureza humana, os velhos tendem a ser conservadores. Com o aumento do desequilíbrio entre velhos e jovens as nossas democracias passarão a promover as posições mais retrogradas, limitando os avanços civilizacionais e até tecnológicos. O paradoxo consiste, assim, no facto de que ao mesmo tempo que os velhos perdem importância social, ganham peso político.
A sociedade contemporânea assenta ainda sobretudo no papel dos jovens, na sua capacidade de empreendimento e inovação. Na economia, na cultura, na ciência e nas questões de comportamento e civilização, os jovens são o público-alvo e a matéria-prima social. Veja-se, por exemplo, como a publicidade e o consumo são quase exclusivamente dirigidos aos jovens. Excetuando o turismo e a saúde, não há quase nada pensado para os idosos. O desamparo é evidente. E não só económico. Mais uma vez a política está a dormir na forma.
Sobretudo à esquerda falta visão para o problema. Os velhos, que já não trabalham e aparentam ser socialmente irrelevantes, são literalmente abandonados às mãos da direita radical e seu discurso caritativo. Não por acaso, Paulo Portas apresenta-se como o protetor dos reformados e anda pelo país a dar beijos às velhinhas.
Contudo, a questão não se resolve com ensaiados afetos. Com o prolongamento da esperança de vida é necessário reintegrar os mais velhos numa existência útil e ativa. O que não implica simplesmente aumentar a idade de reforma. Ela deve ser feita, até por uma questão de dignidade, mas não resolve a questão de fundo. Há mais vida para além da ocupação profissional. Há mais vida para além do trabalho assalariado. Uma vez reformados, os mais velhos podem e devem continuar a aprender e utilizar os seus conhecimentos em novas funções sociais. Muitas delas ainda por descobrir.
Enfim, aquilo que surgiu como um triunfo do génio humano, o prolongamento da vida, está a tornar-se num dos maiores e mais complexos problemas das sociedades atuais e do futuro. A questão não está em saber o que fazer com os velhos, mas como estes podem contribuir para o desenvolvimento da própria humanidade. Aceitam-se ideias.»
Faço minhas as palavras de Leonel Moura " ...Aceitam-se ideias."
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