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domingo, 26 de abril de 2009

A NOSSA ALIMENTAÇÃO É CANCERÍGENA

Artigo retirado da revista francesa Le Point edição nº 1905 de 19 de Março de 2009
Entrevista a David Servan-Schreiber:
Tradução: Carlos Relvas

«A NOSSA ALIMENTAÇÃO É CANCERÍGENA»

Investigador em neurociências, David Servan-Schreiber é o autor do best-seller «Guérir» (I), do qual foram vendidos mais de um milhão de exemplares estando traduzido em 33 línguas.
Ele explica como a nossa alimentação industrial pode favorecer o aparecimento do cancro.

Le Point: O Sr. afirma que a nossa alimentação passou a ser cancerígena. Não acha que foi um pouco longe de mais?

David Servan-Schreiber: Nos últimos cinquenta anos, os nossos alimentos transformaram-se radicalmente. 59% das nossas calorias provêm de alimentos que não existiam quando os nossos genes se constituíram. Esta alimentação, inadaptada aos nossos genes, favorece os cancros, daí o seu número ter tido um crescimento de 60% em 20 anos.

Se o cancro da próstata e da mama, tão frequentes no Ocidente, são em muito menor número em certos países da Ásia é porque os hábitos alimentares são diferentes.

L.P.: Porque faz você do açúcar o inimigo número um?

DS-S: Existe açúcar em quase tudo o que comemos. Nós passámos de 5 quilos por pessoa e por ano, em 1830, para 35 quilos hoje em dia. Sempre que ingerimos açúcar, o nosso corpo liberta a insulina, que estimula as células cancerígenas. Os tumores precisam com efeito de glucose para se desenvolverem. Quando em criança, essa energia é utilizada para o crescimento, mas em idade adulta ela estimula as células gordas e as células cancerosas. As mulheres com mais de 50 anos que apresentam a maior taxa de insulina têm sete vezes mais probabilidades de vir a ter cancro da mama. Por outro lado, no que respeita aos homens o risco de cancro da próstata aumenta nove vezes.

L.P.: Segundo a sua opinião, as carnes vermelhas, os ovos e os produtos lácteos não são bons para a nossa saúde.

DS-S: A nossa alimentação deverá fornecer-nos a mesma quantidade de ómega -3 que de ómega – 6. Hoje em dia, ela fornece-nos 10 a 20 vezes mais ómega – 6.Este desequilíbrio provoca reacções inflamatórias que favorecem o aparecimento de cancros e de doenças cardiovasculares. O nosso organismo precisa de um combustível muito refinado para funcionar e nós fazemo-lo trabalhar com diesel de má qualidade.Com efeito, a partir dos anos 50 começámos a alimentar as vacas com farinhas de milho de soja e de trigo carregadas de ómega -6, e de mês a mês com erva, rica em ómega-3.A mesma coisa aconteceu com as galinhas, que bicavam antigamente os grãos no meio do campo. Em 2000, os ovos produzidos pelos aviários industriais contêm 30 vezes mais ómega – 6 que em 1960.
A carne, os ovos e todos os produtos lácteos não têm mais a mesma composição em ácidos gordos.
A astúcia para restabelecer o equilíbrio entre os ácidos gordos no nosso organismo é de tomarmos todos os dias uma ou duas colheres de sopa de grãos de linhaça, ricos em ómega-3, ou utilizar os óleos de colza e de azeite.

L.P.: Qual é a sua opinião acerca do estudo do Instituto Nacional do Cancro que afirma que «o risco de cancro aumenta desde o primeiro copo de vinho»?

DS-S: De um lado existem estudos que demonstram que beber dois copos de vinho tinto por dia protege contra as doenças cardiovasculares, graças aos polifenóis que o mesmo contém. Do outro, estudos igualmente sérios evocam um aumento no risco de cancro. De facto, tudo depende daquilo que tomarmos em conta. O vinho não produz o mesmo efeito no organismo se for consumido fora ou com as refeições. Nesse efeito interage com o que se come. Desse modo, para as mulheres que têm um regime de tipo mediterrânico, o consumo moderado de vinho não aumenta o risco de cancro da mama, mas para aquelas que adoptam uma alimentação desequilibrada o risco aumenta em 10%.É igualmente verdade que o vinho elogiado nas suas virtudes por Platão e Aristóteles não continha resíduos de pesticidas…

L.P.: Você teve um tumor cerebral. Diria que ele teve a ver com a sua alimentação?

DS-S: Sem dúvida. Depois da minha primeira operação, eu retomei os meus hábitos alimentares. No hospital para não perder tempo, eu contentava-me a todos os almoços comendo chili com carne e uma Coca, que devorava no elevador entre o meu gabinete e o andar em que dava consultas. E depois acabei por ter uma recaída. Quando virem reaparecer no IRM as células cancerosas do vosso cérebro, então isso irá fazer-vos reflectir. Eu então mudei completamente o meu modo de comer. 30% dos cancros são devidos á nossa alimentação. Ora nós podemos agir sobre esse factor de risco escolhendo o que colocamos no nosso prato.

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